Imaterialidade
Seria interessante saber o que determina que encontremos uma imagem aterradora ou um fluir interminável de cores. A tentação em falar de caraterísticas pessoais ou estímulos do momento é grande, mas, na verdade, falaríamos, apenas, de possíveis.
Sublinhe-se que a memória universal não é material, logo os monstros que aparecem não têm existência – ainda que eles tomem conta da nossa.
Seria necessário encontrar um nível intermédio entre imaterialidade e materialidade que definisse esta existência/não existência.
Seria necessário tomar consciência desse nível e chamar em nosso auxílio um eu mais reforçado.
Situar-nos no aqui e agora, de forma repetida, seria, ainda, uma ajuda.
Fica um texto que corresponde ao início de “Entre ontem e amanhã”:
Nasceu há setenta anos.
Ele sente, porém, que só uma parte de si nasceu – a outra ficou na sombra. E atormentou-o sempre – fê-lo andar entre presente e passado e, é bom de ver, não olhou o futuro com verdadeiro olhar.
Foi um exímio construtor – bem cedo sentiu o respeito dos seus pares. Cada ponte que construía, levava-o a um lugar novo – um dia, uma ponte, haveria de o levar à parte que não nasceu,
haveria de conduzi-lo a um sentimento de totalidade,
haveria.
Hoje, é o velho Lucas – é certo que este velho evoca a sua experiência, a sua sabedoria, mas tem também outros sentidos.
Amanhã será a morte – a sombra final.
Poderia pensar a morte como uma libertação – já considerou essa possibilidade – mas o negro aflige-o. O negro, sempre o negro (desde o começo) a pedir para ser branqueado.
Às vezes, saem da sombra formas que estranha – ganham vida e tomam conta dele.
Tem dificuldade em saber quem é.
Faz coisas em que não se reconhece.
Quando a sombra recolhe, volta a lembrança de si próprio”.
Considero oportuno fazer uma pausa tendo em conta o que já foi publicado – o momento é, agora, de reorganização.