“Se a consciência não se tivesse desenvolvido ao longo da evolução, expandindo-se até à sua versão humana, a Humanidade que agora nos é familiar, com todas as suas fragilidades e forças, também não se teria desenvolvido”.
De: António Damásio – O livro da consciência
Sem consciência não teríamos possibilidade de reconhecer que existimos nem de avaliar a nossa existência.
Há, porém, momentos em que temos dificuldade em fazer essa avaliação porque a nossa subjetividade se altera.
Dizemos, então, que vivemos um estado alterado de consciência.
No estado alterado de consciência há uma alteração da perceção relativamente ao estado habitual. Ainda que pareça negativo nem sempre é – é, repetindo, diferente do habitual.
Os estados alterados de consciência mais comuns referem-se a visões, experiências sobrenaturais e de criatividade artística.
A pintura abstrata surge muitas vezes, de experiências sob a influência de estados alterados de consciência.
Na pintura rupestre e na de povos indígenas, aparecem símbolos, padrões e esquemas de cores que, de uma maneira geral e, às vezes sem a devida diferenciação, se associam a estes estados de consciência.
Também a meditação que tem como objetivo melhorar a atenção e a consciência, pode abrir a porta a uma alteração da subjetividade habitual.
Há quem procure esses estados com a ajuda de drogas medicamentos, jejuns.
São procurados por ascetas e místicos e pelos que querem abrir uma janela maior ou outras janelas – há quem fale em expandir a consciência.
E, há quem passe – ou diga que passa – de um estado de consciência normal para um estado alterado de forma intencional e sem descontinuidade.
Designando manifestações variadas, sem grande descriminação, os estados alterados de consciência fazem parte de um contexto que atrai, cria temor e alguma especulação.
A pintura escura de Goya “Los Caprichos” que refere um sonho, aproxima-se de uma visão aterradora. Em algumas telas abstratas, contemporâneas, encontramos formas e cores que surpreendem e encantam.
Há, porém, situações mais complexas em que o eu parece dissolver-se , no todo ou em parte de forma pontual ou continuada.
Na ausência do eu – ou face a um eu frágil – o todo que é a memória universal aparece a fornecer um contexto.
O sentido no nosso tempo – passado, presente, futuro – não encontra correspondência na memória universal.
– Qual é o sentido (ou sentidos) do tempo na memória universal?