Reconhecer

Muito há, ainda, para perceber no que toca a manifestações da memória a que vimos chamando remota. Temos referido imagens; mas pode haver outras formas.

Com uma forma ou com outra, essas manifestações já terão sofrido, na maior parte das vezes, uma elaboração por parte do cérebro – não serão transcrições diretas.

Porém, em fases difíceis ou precoces em termos de desenvolvimento físico e mental, o cérebro terá dificuldade em fazer essa elaboração. A falta de elaboração ou a elaboração ineficaz darão azo a manifestações particularmente violentas.

Admito que, não o fazendo, no momento, o cérebro poderá ficar a fazê-lo de forma lenta (muitas vezes sem nos apercebermos).

Quantas vezes nos sentimos incapazes de nos concentrar e dizemos para nós mesmos – tenho o cérebro ocupado.

Esse desejo/necessidade de desocupar o cérebro torna-se uma prioridade. Fazemos esforços vários no sentido de nos libertarmos. Todos sabemos que nem sempre conseguimos.

Sem um trabalho de elaboração, os medos, o desejo de destruição – os sentimentos de uma maneira geral – serão extremos. A urgência de agir – de sobreviver em última análise – poderá tornar-se uma ordem para aniquilarmos o que nos ameaça ou até nos aniquilarmos.

A memória mais difícil de reconhecer é a que permanece em pano de fundo. Sem se manifestar de forma direta, intensifica ou diminui os nossos medos, mas também as nossas motivações. Pode até provocar alterações no funcionamento do corpo.

Muitas vezes, as nossas paixões definem-se neste pano de fundo. Também a nossa criatividade e originalidade se alimentam nele. Pode ser pontual ou não.

A intensificação de sentimentos (aparentemente sem explicação) assim como a diminuição dos mesmos, podem encontrar explicação aqui.

A pressão para destruir (matar, golpear, deitar ou deitar-se de um penhasco…) retira a sua força desse pano de fundo negativo que persiste. Em casos destes, o cérebro fica sem a capacidade de reagir de forma independente.

Poderemos ficar imersos de forma mais ou menos global, no desatino ou na imobilidade provocados pela manifestação violenta de uma memória descontextualizada. Entraremos em regressão e poderemos permanecer nela se não encontrarmos a forma certa de realizar um trabalho de elaboração.

Não sei se há uma forma única; mas reconhecer o que está em questão será a primeira etapa.

A citação, a seguir, vem na linha de acumular dados que alimentem o trabalho de elaboração.

“…Os neurónios são as unidades funcionais que nos permitem receber informação, processá-la e agir, aprender e memorizar…

As três partes básicas de um neurónio são o soma ou corpo celular, as dendrites e o axónio…

Os neurónios trabalham juntos em grupos ou redes para produzir determinadas funções, possuindo propriedades elétricas e químicas para propagar os impulsos elétricos.”

(de: Somos a nossa memória, já citado).

Os termos neurotransmissor e sinapses são, hoje, referidos de forma comum, mas nem sempre entendidos de forma clara e exata. Será desejável que ajustemos esse conhecimento recorrendo a fontes específicas.