“Havia já dado uma grande volta sem qualquer contratempo e preparava-se para regressar quando, ao contornar um rochedo que se atravessou no seu caminho, viu uma enorme sombra a avançar. Um terrível pressentimento cresceu dentro de si ao mesmo tempo que a sombra crescia. Crescia e envolvia-o.
Fugir em campo aberto?
Ficar imóvel?
O grande, de pescoço arrogante, já o viu e olha-o demoradamente. Já em outras alturas ele havia encontrado bolas como aquela, quietas que, dum momento para o outro se projetavam de um salto e fugiam sem lhe dar tempo de qualquer manobra. Ficara, depois, durante todo o dia com um sentimento intolerável de ter sido tomado por parvo. Por isso, ele espera – não tem pressa. Mas o pequeno que mais parece um novelo de tão contraído que está, não se mexe, não dá qualquer sinal de vida e, sobretudo, não olha – morreria de pânico se olhasse.
O grande estende, então, a pata para lhe tocar; mas a pata é enorme e o bicho é pequeno. A coordenação de movimentos exige-lhe um grande esforço…”
(textos)
Quando escrevi este texto, relacionei-o, certamente, com enormes dinossauros e pequenos mamíferos.
Mas poderá ser extensível a outro tempo e a outros contextos. E se trememos diante duma autoridade ou de algum grande talvez seja o momento de acertarmos o tempo e o contexto.
Se a desproporção é muito grande – como no episódio transcrito – só um superpoder nos salvará. Mas por que razão não haveremos de criar um superpoder?
A plasticidade do cérebro ajuda-nos. Convém não exagerar.