Colar

Volto, ainda, à fratura.

Temos um objeto em cerâmica (materialidade plena) ao qual associámos informações importantes. Por acidente, parte-se.

Queremos muito reavê-lo.

Começamos por recolher todos os pedaços com cuidado. Escolhemos uma música tranquilizante que possa acompanhar o trabalho de colagem que vamos realizar. Com tempo, com paciência, colamos o melhor que conseguimos os fragmentos que resultaram da destruição de uma forma, antes, completa.

Do nosso trabalho poderá não resultar grande coisa, mas consertamos ou acalmamos os sentimentos que uma fratura (mesmo que seja por acidente) arrasta consigo. E são muitos (culpa, desvalorização…) e são difíceis de neutralizar.

Aliviámos também o sentimento de perda, às vezes, insuportável.

Colar é uma atividade terapêutica.

Além de criativa – a colagem de elementos de vários contextos, num fundo comum, pode ter uma intenção artística em si; mas poderá também ser o ponto de partida (concreto) para um trabalho de outra natureza.

Os diversos elementos vão criar uma outra unidade.

Voltemos, ainda, à imagem da grade da prisão (bem material) que já conhecemos. Façamos uma representação gráfica da grelha, cruzando linhas verticais e horizontais – desmaterializando-a.

A grelha assim obtida poderá significar uma grelha de informação.

Num segundo momento, representamos a mesma grelha como se ela tivesse sofrido um corte de alto a baixo.

Num terceiro, fixamos a imagem e vamos unir, uma a uma, todos as linhas que o corte separou.