Re-integração

Já falamos de individuação no sentido de criarmos uma identidade própria sem demasiado peso das normas parentais ou sociais.

Em “Nós e os outros” criámos duas caixas para “arrumar” o que sentíamos como nosso e o que resultaria da aprendizagem relativa ao familiar e ao social.

Parece ser o momento de desenvolvermos um processo idêntico relativamente à natureza.

Passará também por uma fase de diferenciação e por outra de criação de uma nova forma de relacionamento.

Na diferenciação teremos de distinguir o que é nosso – relativamente ao nosso momento evolutivo e o que é da natureza.

Consideremos um exemplo – estamos a bater uma massa e sentimos o sofrimento da massa – a massa não sofre (ou não sofre à nossa maneira). Percebemos isso, por que sofremos, então?

Porque permanece uma ligação à natureza primeira que é necessário fazer evoluir.

Essa ligação que traz um sentimento fora do tempo (do nosso tempo) será mantida pela permanência de uma memória remota.

Como a enviaremos para o tempo próprio?

Não será fácil nem claro.

Recorrer a ” caixas de arrumação” poderá ser uma forma de começar. Mas teremos de ir mais além.

Se criarmos caixas de arrumação teremos de contar com o tempo – uma das caixas poderá conter o referente ao passado (próximo ou remoto). Teremos, assim uma caixa “foi no tempo de… ” ou “já não é” e outra que refira o presente.

Como já referido antes, quando sentirmos algo desfasado, vemo-nos a fazer o gesto de atirar para a caixa respetiva, o intruso (porque é disso que se trata) ao mesmo tempo que repetimos ” foi no tempo de…” já não é”

É importante insistir e esperar (desejar) que o cérebro altere essa ligação.

Poderemos complementar o trabalho imaginando uma espaço onde situaremos essa memória. Sem darmos conta estaremos a iniciar um conto (narrativa).

A nova forma de relação com a natureza (segundo aspeto) passará pela consciencialização de que somos parte da natureza. Pertencemos a um todo maior.

Não é fácil, nem claro, no início – cada um tentará ir entendendo e avançando à sua maneira.

Se acompanharmos o ciclo de vida de uma planta cuja semente nós metemos na terra, vemos crescer, florir e, quando a informação começa a desorganizar- se, veremos envelhecer, ficaremos mais conscientes na nossa relação com a natureza.

Às vezes, para avançarmos, teremos de tentar o esquecimento. O esquecimento liberta-nos do sofrimento e da perturbação. Além disso, deixa disponíveis recursos para outras experiências, outros interesses, outro conhecimento.

Para situações difíceis, há terapias específicas.

Eu seguirei numa linha de continuidade tanto em relação a conteúdo como a forma.

Proposta:

Já todos vimos grandes quantidades de lava incandescente a descer por uma montanha.

Depois de descontrair e de conseguir silêncio interno e externo, visualizamos essa matéria vermelha e quente a endurecer um pouco e, depois, a enrolar-se, em sentido contrário, e a subir (enrolando-se) pela montanha até desaparecer do outro lado.

Explicitar o que aconteceu, melhora o resultado. “Já foi”, “já não volta”…

Nota: Esta publicação é a primeira desta unidade – o título “narrativa” será alterado.