O quarto escuro

– Tens a liberdade de andar por toda a casa, mas nunca deverás abrir o quarto do sótão, nunca.

– Porquê? – estranhou o rapaz.

– Porque não tem luz.

– E se levar um foco…? – arriscou.

– Todas as luzes se apagam ao entrar naquele quarto – rematou a mãe.

O filho ficou a matutar

 (se eu levar dois focos…) …

O primeiro foco apagou, o segundo apagou. Um grito, que não saía, apertou-lhe a garganta.

Mas resistiu.

Sentia no ar uma presença, uma presença que se agitava no escuro.

Resistia.

Os seus olhos iam-se habituando à escuridão.

………………………………………………”

(de: “Entre ontem e amanhã)

Esta pequena narrativa foi construída tendo em conta elementos que aparecem, de forma repetida, em narrativas intemporais. São blocos de significação mais ou menos universal.

O que transcrevi é, apenas, uma parte.

Quem a ler, repetidamente, vendo – vendo mesmo – o que está a ler, terá, ao fim de alguns dias, uma boa surpresa.

Valerá a pena.