Som.2

O riso é som.

Desde a gargalhada espontânea (explosão de um som mais ou menos informe) e o rir organizado há muitas variantes.

Inserido num contexto social o riso pode ser uma forma de comunicação: “vem, és aceite”, “não há perigo” “vamos divertir-nos…”

Em certas situações o riso aceita ser sujeito a ritmos.

O riso é um bom exemplo de como as fronteiras entre som organizado e informe são pouco consistentes.

O contexto pode alterá-las assim como a perceção.

Recordo a gargalhada malévola em “quero beleza”.

Recordo, ainda, o som Prrrr… que um dos meninos fez com os lábios em “Som”, incitando o riso de toda a classe incluindo o da professora.

Algures entre um rir e o som que sai do nosso traseiro, de natureza informe, e que designamos por “pum” (dar um pum) aparecerá o Prrrrrr…

Ainda nesse caminho, aparecerá o som quase informe das palavras que proferimos quando nos sentimos “em fúria” – que saem umas após outras como pedras atiradas contra alguém ou alguma coisa.

Nos dois últimos exemplos, vamos em direção “ao começo”.

“…e, se um centro de comando arcaico entra em funções utiliza os sentidos que lhe são próprios.

(pois claro!)

E sabes onde situam o comando mais arcaico e, possivelmente, o mais importante? – aguenta-te, se estás em pé.

(onde? – pergunta irritado como se estivesse a responder a alguém)

No ânus.

O ânus é o começo.

(porque está este pensador de meia tigela a brincar comigo?)

De seguida, desata a praguejar forte e feio – continua a praguejar até que a falta de ar o obriga a conter-se”.

(de: Entre ontem e amanhã)

E o sorriso enigmático da Gioconda, onde o vamos situar?

O sorriso não é som.

(fotos:Gemini)