No informe, a informação não está organizada.
Recordo uma menina de 6 anos que gostava de fiar – ela via as mulheres mais velhas e queria fazer o mesmo.
A avó, sentindo o seu interesse, mandou fazer uma roca para o seu tamanho. A imagem dela a fiar com destreza e a ser admirada pelos adultos, mantém-se na minha memória.
Vejo o velo de lã (sem forma) a diminuir, o fuso a girar e o fio a crescer, organizado.
Um gato brinca com um novelo de lã e desfaz a organização que lhe dava forma. Este exemplo refere o informe, mas no sentido forma – não forma.
Alguém poderá pegar na confusão que o gato fez e, se conseguir, dar-lhe, novamente, forma.
Quando pegamos num pedaço de barro e o modelamos, estamos a criar forma.
Neste caso – modelagem – há, já, uma elaboração demorada e se quisermos que a nossa forma ganhe solidez, o barro terá de ser sujeito “ao tormento” de temperaturas muito altas.
Há casos complexos. Outros podem ser simples mas de grande dimensão.
Refiro, ainda, aqueles em que a violência (às vezes, extrema) parece ser o único meio de conseguir forma.
Arrisco estabelecer relação com o torturador que faz sofrer, desfigura – envia o torturado no sentido do informe.
Ele pretende dar outra forma a alguém que contraria a sua.
Comprámos o bolo mais bonito da pastelaria – com uma forma esmerada. Para o comer, teremos de o cortar em fatias, depois será mastigado sem piedade. A saliva envolverá os pedaços de bolo e começará a fazer deles uma massa sem forma.
Engolida, esta massa chegará à acidez extrema do estômago. No tubo digestivo, o processo continuará a ser violento – a bílis atuará assim como as enzimas enviadas pelo pâncreas.
O que não for assimilado, terminará a ser expulso do corpo num estado de natureza informe.
Caminhamos à beira de uma estrada – sobre o pavimento surge um pequeno alto, sem forma, de matéria mole e negra.
Não nos passa despercebido porque nos inspira receio. Depois, damos conta de que uma leve ondulação interior, sem definição, o anima – o nosso receio aumenta.
Quando o informe se move, sobretudo se for uma massa de grande dimensão, pode ser aterrorizador – vejamos um rio de lava que escorre por uma montanha.
Temos memórias de informes monstruosos relativos ao tempo da formação da terra e, possivelmente, anteriores. Estão, normalmente, adormecidas; mas poderão acordar.
Tornadas presentes (descontextualizadas) dissolvem a nossa identidade no que toca a capacidade de avaliar e distanciar. Logo, de sentir.
Podem ser verdadeiramente aterradoras.