Estrada, fim

Gilgamesh poema (épico) da mesopotâmia, escrito por volta de 1800 a. C. em tabuinhas de argila, é considerado um dos primeiros textos (conhecidos) da literatura mundial.


“Avistou um carro na estrada, ao longe. Ficou a vê-lo a contornar cada curva – nele vinha a morte. Sentada no banco da frente, ao lado do motorista, sobressaía na viatura clara.

Ele quis rever a sua vida; mas o passado falhou, tornou-se folha branca sem letras ou desenhos ou linhas.

Tentou o futuro; mas o futuro não chegava.

 Chegava a morte, vestida de negro.

Era uma mulher – um lenço escuro atado à cabeça cobria-lhe os cabelos e dava ao rosto a forma de um triângulo que não gostava de ser triângulo”.


“O serviço funerário continuava pago, mas ela continuava a ter falta de ar ao imaginar-se numa urna apertada. Começava a habituar-se à ideia de ser cremada.

Mas um dia viu-se a caminhar em direção ao sol, num final de tarde de verão. À medida que avançava, sentia o corpo a tornar-se leve, transparente, imaterial,

quase a desaparecer…

Suspirou, demoradamente

(era assim que eu gostaria de morrer)”