Caixa.2

Transcrevo na íntegra esta narrativa ( já publicada em parte) com a proposta já conhecida: ler repetidamente, visualizando o que acontece.

“A caixa era forte, escura e pesada.

Ninguém sabia o que havia dentro. Um mais corajoso encostou o ouvido. Sentiu movimentos. Afastou-se amedrontado.

São cobras escuras – eu consigo ver através da parede da caixa.

– Vira essa boca para lá – alguém berrou.

A mulher da visão conteve-se; mas a pulsação apressara. A qualquer momento a tampa poderia ceder e os indesejáveis ocupantes saírem e espalharem a confusão pela praça.

– Vou pôr-me a salvo – informou um rapaz quase criança. E subiu a escadaria que dava para a entrada da sua habitação.

– Os outros permaneciam atentos ao menor movimento. Quando a tampa pareceu mover-se, tomaram uma posição de fuga.

Mas a tampa voltou à posição inicial.

A calma voltou, mas percebia-se alguma desilusão.

– A tampa está a mexer, vejam! Vejam!

– Ouçam, ouçam! – ver não se vê nada – troçou outro.

A caixa permanecia misteriosa e insistente no meio da praça.

– Como veio aqui parar?

– Veio do passado. Parou aí porque não podia avançar mais.

Um vento ligeiro rodopiou, espantou alguns – tudo estivera quieto até então – agradou a outros que sentiam o calor do nervosismo.

Alguns dispunham-se a regressar a casa – era um assunto para as autoridades resolverem – mas, a um estremeção mais forte, a tampa elevou-se um pouco e apareceu a ponta do que parecia ser um bico.

Os olhares concentrados viram a tampa fechar de novo.

– Se é um bicho, não será um bicho perigoso – arriscou um que tinha vontade de se aproximar.

Uma mulher magra e doente começou a rezar em voz alta. A ladainha ou o tom irritaram o vizinho que ainda levantou o pé para a forçar a afastar-se.

Um bico comprido assomou de novo.

O que já quisera aproximar-se deu mais um passo na direção da caixa.

– Cuidado! – a voz que se ouvia era de aflição.

O rapaz ignorou-a, mas já pronto para abrir a tampa da caixa, hesitou …hesitou. Deu um passo atrás quando um vulto branco se projetou para fora da caixa.

Ahahahahah!… o coro, que primeiro exprimia estranheza, passou a um tom de surpresa.

Quando a ave se sacudiu e levantou, constataram ser um cisne que caminhava duvidoso porque os seus olhos não haviam, ainda, aceite a luz.

As pessoas afastaram- se para o deixar passar, evitaram tocar-lhe para não o assustar. Ele seguiu em direção a um espaço ajardinado. Todos os olhos o seguiram por isso não viram outro vulto branco que parecia ter sido empurrado, cair no chão, perto da caixa.

– Outro! Outro! – gritaram.

Era outro, sim, seria mais um, depois outro e outro – cinco ao todo.

Quando a tampa da caixa ficou quieta, o que se adiantara, mas não se chegara o suficiente, atreveu-se e abriu completamente a tampa.

Estava vazia.

Todos ficaram a contemplar os lindos cisnes brancos que procuravam um espaço no lago mais próximo.