O dia avançara em ondas de verde. Concentrara-as, logo às nove horas, e elas seguiam, contentes, o curso solar.
Quando apareceu um homem de máquina fotográfica, a atentar em todo e qualquer pormenor, uma das ondas disse:
– Quer fazer um trabalho.
– Vou passar em frente do seu olhar – acrescentou outra.
A onda, um pouco mais clara que as outras, desviou-se dos seus contornos e tapou os olhos do fotógrafo. Este enxotou-a como se fosse um inseto – um inseto verde, naturalmente – mas não deixou de ficar, por instantes, tudo verde.
Isto seria um bom filtro para as minhas fotografias, não para os meus olhos – pensou.
Pinga, pinga, pinga!
No tecido plastificado do seu saco o cair das gotas soava bizarro.
Começou a contá-las …uma, duas, três…quando chegou às trinta e nove, o som deixou de se ouvir.
A chuva havia dissolvido as ondas verdes e o ar estava limpo – era o momento das suas fotografias.
Ajeitou a máquina, limpou a lente e enquadrava a foto quando no seu campo de visão surgiu uma chávena de café fumegante.
Zangou-se – desistia. Mas sem querer premiu o botão.
Quando, no dia seguinte, abriu a máquina, encontrou uma foto em que um fumo ora branco ora acinzentado subia até á margem da foto, pronto a continuar a subir.
Começou a contar em sentido inverso…39, 38, 37… quando chegou a dez, parou… o fumo branco e cinzento começava a desaparecer.
O melhor mesmo era ir tomar um café no primeiro sítio que encontrasse.
(de: Entre ontem e amanhã)
Tentar descrever um cenário (ou elaborar uma narrativa) na perspetiva, um pouco insólita, de procurar um nível de maior imaterialidade, será interessante.
Será uma forma de expandir o pensamento.
Deixo esta proposta.
Quem se sentir mais confortável noutra forma de expressão poderá utilizá-la com o mesmo objetivo.
Nota: o hábito de descontrair e ouvir todas as partes do corpo deverá ser mantido com regularidade – o cérebro recebe informações de todas as partes do corpo.