Um dia encontrámos uma poça de água. Depois a água secou e deixou uma massa pegajosa, informe.
Essa massa era o eco de outras.
Recolhemos uma mão cheia de massa e percebemos que ela poderia tomar várias formas – descobrimos a potencialidade da massa.
Amassámos uma vez e outra e outra – sentíamos prazer em amassar .Cada repetição acrescentava algo.
A memória estava lá a garantir a continuidade, guardando cada detalhe.
Um dia, daríamos um salto, iríamos além da massa e da repetição do ato de amassar. Encontraríamos um sentido.
O encontro com este sentido levaria à definição de uma forma e não de qualquer forma.
Subjacente a esta mudança esteve uma evolução imaterial.
Com o tempo, procuraríamos outras formas já intencionadas, e até outras massas com melhores potencialidades.
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Depois de algum tempo – talvez muito tempo – quisemos que a forma que concretizámos, permanecesse.
Algo terá remexido na nossa memória – algo muito remoto que evocava fogo.
Esse fogo primitivo fazia medo, pavor mesmo.
Seria necessário muito tempo, mesmo muito, para que alguém ousasse controlar esse pavor e esse fogo.
Mercê do fogo, a nossa forma permaneceria.
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A criação em cerâmica é aquela que mais se aproxima da criação na natureza, a que melhor evoca a indefinição do começo.
No começo, há potencialidades.
Ao criarmos uma forma organizada em cerâmica, poderemos organizar (em termos simbólicos) aspetos primitivos (pouco organizados) que continuam em nós e que, habitualmente, nos criam dificuldades.
Poderemos fazer um trabalho idêntico por outros meios – a arte, duma maneira geral, fornece esses meios – mas também outras realizações os fornecem.
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A história da cerâmica é quase tão antiga quanto a da humanidade.
As primeiras formas que conhecemos são pouco diferenciadas mal percebemos a definição.
Mas a cerâmica pode atingir níveis de diferenciação muito elevados. No Oriente, sobretudo no Japão, os exemplos são muitos e muito expressivos.
As imagens que seguem não têm implícita nenhuma linha evolutiva. A primeira é uma forma simples, a segunda é uma forma feminina que evoca fecundidade – um tema muito repetido na expressão em cerâmica, sobretudo em culturas antigas.


(fotos gemini)
Sugestão:
Fazer uma pesquisa, seguindo uma linha evolutiva definida – ou a definir – de objetos em cerâmica, partindo das primeiras formas que conhecemos.