
(Caravagio)
Não vamos falar de luz e sombra na pintura, na fotografia e no cinema, não é esse o nosso propósito. O jogo entre a luz e a sombra será uma metáfora para o que, a seguir, será dito.
Observemos, então, a pintura de Caravagio – o objeto (forma) emerge da sombra como se uma luz o descobrisse e lhe desse existência.
Visto de relance, o objeto parece fraturado, mas se atentarmos nele, reconhecemo-lo completo – nós completamo-lo.
A técnica de Caravagio(tenebrismo) influenciou muitos artistas durante muito tempo.
A nós, interessa sublinhar que a forma (objeto) está lá – na sombra – e ganha existência, emergindo da sombra.
Neste sentido, a sombra é o lugar onde está a informação para nós iluminarmos. A sombra é potencialidade.
Sobretudo no começo.
Cabe-nos iluminar as potencialidades e materializá-las (ou não).
Outro exemplo interessante (neste contexto de luz-sombra na pintura) é o de George de La tour. É, porém, diferente do anterior. A atenção deste pintor fixa-se na fonte de luz e não no objeto iluminado. Esta singularidade confere à pintura uma dimensão metafísica.

Voltemos ao sorriso da Mona Lisa. A técnica chama-se, agora, sfumato, o pai é Leonard de Vinci. O jogo entre luz e sombra está lá – substituindo a linha que, na expressão gráfica, marca (define) a forma.

“Nasceu há setenta anos.
Ele sente, porém, que só uma parte de si nasceu – a outra ficou na sombra. E atormentou-o sempre – fê-lo andar entre presente e passado e, é bom de ver, não olhou o futuro com verdadeiro olhar”.
(Entre ontem e amanhã)