Também o som pode ser de natureza informe, também ele pode ser aterrorizador.

Trabalhar o som (organizá-lo) poderá ser de importância maior para o equilíbrio.

Há, naturalmente, várias formas de organizar o som, mas é na música que o som atinge níveis elevados de organização – às vezes, de transcendência.

Desde o som do tambor que nos facilita um sentimento de receio e, ao mesmo tempo de libertação, até à melodia que nos eleva ou nos tranquiliza, o som é matéria a organizar com maior ou menor mestria.

O som do tambor leva-nos a sons primordiais. Sentirmos medo ou libertação tem a ver com a intensidade, com a organização mas também com a ressonância interior de cada um. Esta pode ser influenciada por memórias remotas.

O som pode ser trabalhado para obter uma sonoridade expressiva (na frase). Ouçamos os versos do poeta simbolista Eugénio de Castro:

“Na messe, que enlourece, estremece a quermesse

O sol, celestial girassol, esmorece”.

Na comunicação oral poderemos dar ênfase a determinados sons para fins diversos – intimidar, agradar…

A relação (jogo) entre espontaneidade e organização, modela o rir.

Rir contagia – é elemento de ligação. É facilitador em termos sociais.

“Quando todos estavam prontos para a história, ele apertou os lábios com força… depois libertou-os… um ruído estranho e continuado ecoou pela sala:

PRRRRRRrrrr…………………….prrrrrrrrrrr…………………….prrrrrr

Todos riram – todos menos o Daniel. Não percebia onde estava a graça.

A Rita deu-lhe uma cotovelada – ri também”.

….

Todos riam.

A professora tivera vontade de dar um berro, mas, como viu todos a rir, riu também.

(Gira, gira, girassol)

Neste contexto – informe, organização, beleza – faz sentido orientar a descontração do corpo no sentido da aceitação, respeito e afeto pelo corpo – por cada uma das suas partes.

A informação que orienta o nosso corpo é muito organizada. Milhões de anos de evolução trabalharam-na e diferenciaram-na.

Nota: a próxima publicação será no final de agosto.

(Imagem – Gemini)