Se tentarmos desconstruir as criações mentais que designámos de monstros, vamos constatar que aquelas que referem medos de momentos evolutivos anteriores à linguagem são de desconstrução difícil.
Se referirem medos de momentos anteriores ao aparecimento dos olhos a sua desconstrução revela-se um verdadeiro quebra-cabeças.
No trabalho de desconstrução temos de ter em conta uma significação universal, uma local e, ainda, uma individual.
A serpente pode ser um animal aterrador, mas a simbologia que culturas diferentes lhe associam pode ser muito diferente.
A cultura ocidental reforça os aspetos negativos – exceção para o bastão de Asclépio – uma serpente enrolada em um bastão – símbolo de cura (Asclépio era o deus grego da medicina e da cura).
Na psicanálise a serpente é um símbolo fálico.
Na cultura oriental a serpente pode ser associada a sabedoria e intuição,
a renovação uma vez que muda de pele (e quase renasce).
É portadora de energia, de força.
Pode mesmo ser associada a espiritualidade.
A significação universal (positiva) é difícil de definir – ela pode estar ligada a criação, a fertilidade.
Pode estar a ligada a resiliência no sentido de sobreviver a situações difíceis.
Mas tem outra significação que se liga à forma – a uma forma primordial – à forma que sai do informe. A cobra será, assim, uma primeira forma.
Quanto ao sentido aterrador ele está essencialmente ligado ao modo enrolado – o modo enrolado define uma posição de ataque. As formas enroladas atualizam a memória das grandes massas enroladas primordiais que são muito assustadoras.
As massas enroladas assimilam tudo, remetem para o informe.
O sentido negativo está, ainda, ligado à cor escura.
Pode ter outras ligações a nível local e individual.
Proposta:
Visualizar na base do cérebro uma massa enrolada. Pouco a pouco, mas de forma consistente, visualizamos o cérebro a crescer nesse sentido até ocupar todo o espaço que, antes, a massa enrolada ocupava.
Repetir.