Éden

Não temos a certeza se o jardim do Éden existiu nem tão pouco os jardins suspensos da Babilónia. Poderão corresponder a criações mentais que partiram de memórias remotas referentes a períodos de fertilidade e/ou beleza.

Porque também há boas memórias.

Elas poderão fornecer matéria para a criação de obras de arte, jardins, construções de natureza vária. Estas criações ultrapassam, normalmente, os pontos de partida já que a elaboração faz o resto.

Poderão, ainda, serem pontos de partida para gestos de empatia em relação aqueles que sofrem. Porque o sofrimento – o sofrimento intenso – é um dado sempre presente na evolução.

Os nossos empreendimentos – aqueles por que, às vezes, lutamos toda uma vida – nascem muitas vezes em fontes de memória remota. Parecem nascer de uma necessidade de compensar as faltas – às vezes, extremas – ou o sofrimento dos seres que nos precederam.

Os excertos que, a seguir, deixo, poderão partir de memórias remotas. Têm como intenção descrever o momento evolutivo em que se inserem – não são idealizados.

“A neve cobria há muito toda a terra; nada se atrevia a nascer. O silêncio associara-se ao branco e haviam construído como que uma mortalha que cobrira montes e vales. Nada perturbava o branco. A beleza era avassaladora; mas a vida parecia ter desaparecido.

Não havia plantas,

não havia animais.

O sol ia aparecendo; mas precisaria de muito tempo, talvez anos ou mesmo séculos até derreter a neve que se amontoara”.

“A neve branca continuava e continuaria; mas ia cedendo espaço ao castanho da terra – manchas brancas, a dissolverem-se, alternavam com manchas mais escuras.

O céu levemente cinzento definia um pano de fundo a introduzir distância”.

“E um dia, era quase uma árvore  – uma pequena árvore – viu várias plantas pequeninas e medrosas como ela fora, a aparecerem aqui e ali. Foram nascendo mais e mais, foram crescendo até que a montanha ficou coberta de verde”

(De: Textos)

Variante: associar um som ao movimento.