Quando acordamos de um sonho vívido, temos, às vezes, a sensação de ver as pessoas ou objetos ali, ao lado da nossa cama.
Como se fossem materiais.
Isto acontece, apenas, por momentos. A materialidade imporá, logo, os seus direitos.
Na dificuldade de nomear um nível intermédio entre imaterialidade e materialidade, demoro-me em pontos de interseção entre o que é tocável e o que é intangível.
Poderá ser uma primeira abordagem.
“Aquele homem não era o mesmo que, apagado da sua memória pela distância, ela tinha reconstruído laboriosamente com a sua capacidade criadora e modeladora.”
(Benito Galdós – Tristana)
Já foi referido que a literatura abre espaço ao imaterial.
A procura de Ishmael pelo cachalote branco (Moby Dick) que lhe levou parte da perna, torna-se uma metáfora, vai além da leitura das palavras do livro.
Também uma melodia vai além da execução da partitura.
Quem desenha conceitos quer entendê-los melhor, materializando-os.
O pensamento do primeiro princípio propõe-se resolver um problema (ou uma ideia) decompondo-o nos seus elementos básicos e, a partir daí, criar um novo arranjo dos mesmos. A solução – inovadora – será encontrada “num lugar de interseção entre o tocável e o intangível”- algures num espaço- tempo em que ambos se entrelaçam.
Esse longo e, às vezes penoso processo, terá de esquecer atalhos e ideias feitas – “foi sempre assim”, “é assim que eu penso” – e elaborar passo a passo uma solução nova.
Se nós não destruirmos o planeta de forma irremediável e ditarmos o nosso fim, o nosso amanhã parece encaminhar-se para um nível de maior imaterialidade.
Os computadores (mas não só os computadores) levam-nos a toda a velocidade – talvez com demasiada velocidade – nesse sentido.
Como poderemos olhar o futuro partindo desta hipótese?
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