Chamo, ainda, o miúdo do desenho animado – hoje ele leva o cão consigo. Correm, correm ambos.
Estão quase a chegar ao sítio em que a terra abriu e deu lugar a um vale fundo. O menino olha o lado de lá – adivinha-se o desejo de o alcançar. Mas como?
A dado momento, repara que o lado de lá começa a aproximar-se, aproximar-se… Esfrega os olhos, o cão ladra, mas o lado de lá está cada vez mais próximo e continua a aproximar-se, devagar. Até que se cola ao lado de cá.
Os dois lados são, agora, um todo.
Não há vale fundo, não há descontinuidade.
Primeiramente, receosos, miúdo e cão começam a andar de cá para lá – nas suas cabeças ainda há um lado e outro. Continuam a atravessar o que antes estava dividido. De um lado para o outro – uma e outra vez. Até que sentem a terra firme. Até que começa a surgir a noção do todo.
É, agora, tempo de evocarmos a imagem dos penhascos separados, de os ver juntar-se e de fazermos o que o cão e o miúdo fizeram. Repetidamente.
“Os grupos de neurónios ligados entre si denominam-se circuitos neuronais e são o substrato biológico dos pensamentos, sentimentos, movimentos, de todos os processos conscientes e inconscientes em que o sistema nervoso intervém. Calcula-se que cada neurónio estabelece contatos com entre 1000 a 15000 neurónios; portanto, o número de conexões, de sinapses (as zonas ativas de transmissão entre dois neurónios), estima-se ser da ordem dos milhares de biliões…”
(de: Neurociência e psicologia já citado)
