Volto ao miúdo do desenho animado que corre, corre e é, subitamente, obrigado a estacar porque está à beira de um abismo.
A imagem mental de cair de um ponto alto para um abismo – normalmente água; mas poderá também ser terra sem consistência – é recorrente e parece referir-se a um começo.
Mas um começo num contexto que já não é o nosso. Se nós cairmos nessa circunstância poderemos morrer.
O miúdo senta-se e fica olhar a terra do outro lado que não consegue alcançar. Cansado, adormece.
Sonha com um mar branco creme onde entra confiante. Um mar que o acolhe e acalma. O sentimento de ser acolhido continua mesmo depois de acordar.
É aquela cor, aquele branco creme que o faz sentir-se acolhido, envolto com carinho?
Não sabe responder; mas parece-lhe que a sua cabeça abriu – qualquer coisa que a fechava, deixou de existir.
Durante a semana ele procura essa cor por todo o lado. Quando a encontra numa roupa, num objeto, numa parede…sente-se bem.
A proposta que faço é que sejamos esse miúdo. Que definamos o tom do branco creme – o nosso tom – e que sintamos o conforto de ser acolhidos.
É difícil criar um nível intermédio entre imaterialidade e materialidade e, sobretudo, nomeá-lo.
Voltemos aos terraços dos dois prédios altos que referimos antes. Imaginemos que o espaço entre os dois prédios foi preenchido por nuvens de cor branco creme, consistentes. Se cairmos (se nos virmos a cair) elas amparam-nos.
Estas nuvens são o melhor exemplo que encontro para ilustrar esse nível intermédio de quase imaterialidade.