Lavou
Cortou
E levou ao forno
As finas rodelas da batata doce.
Esperou…
Crre, crre, crre, crre
De tanto crrear, esqueceu o molho.
Mexeu a memória
Voltou a mexer
Só apareceu o tomilho – nada mais.
…………….
O cheiro a queimado trouxe-lhe a memória da batata doce.
Todos sabemos como o cheiro nos leva a memórias recentes e antigas referentes a pessoas de quem eramos próximos, de casas de infância e de objetos.
Quem leu Proust – À procura do tempo perdido – encontra sentido para o que digo.
O som aparece em muitas memórias recentes e pode ter a possibilidade de as definir como boas, más, excecionais… pode aparecer “atualizado” – porque pertence a fenómenos remotos ( formação da terra) ou violentos – trovoadas, tremores de terra…
Nada como um som melodioso para nos ligar a memórias de pessoas, acontecimentos, lugares…
O som “crre”, que aparece no texto, pode ligar-nos ao estalar da camada de chocolate de um gelado e , portanto, a memórias de prazer relativas ao paladar – o efeito crocante é, hoje, muito procurado nas cozinhas dos chefes.
Mas o mesmo som pode ligar-se ao som de maxilares a triturar e, nesse caso, pode não ser nada agradável – pode mesmo levar-nos a associar memórias ameaçadoras.
Às vezes, sobressai uma memória definida; às vezes, os sentidos misturam-se – paladar, cheiro, visão. Também a memória pode referir-se a um significado bem definido ou a um menos claro.
Há sons que nos inquietam e que deixarão de nos inquietar se os colocarmos na “caixa” certa.
Cabe a cada um fazer esse trabalho. Poderemos rememorar as férias que já passaram ou que ainda decorrem e fazermos uma primeira análise dos gostos, dos sons, dos cheiros que nos gratificaram ou desgostaram.
Poderemos melhorar uma memória se lhe associarmos outro cheiro, outro paladar, outro som…
