Todos vimos já, em desenhos animados, uma criança que corre, corre, até que, subitamente, tem de parar porque está à beira de um precipício.
Esta situação é comum ainda que em contextos diferentes – um carro a fugir de uma perseguição é obrigado a travar a fundo porque, se continuar, cai por uma ribanceira.
Do lado de lá há, de novo, terra plana, mas como chegar lá?
A situação que agora proponho tem semelhanças com esta mas tem como objetivo estabelecer ligação entre um lado e outro e situa-se na linha de preparação para elaborar “a minha narrativa”.
O medo (pânico) da travessia está lá e teremos de o neutralizar.
Há dois edifícios altos cujos terraços estão ligados por uma escada de madeira colocada na horizontal. Teremos de atravessar de um para outro prédio através dessa escada.
Se olharmos para baixo – para o abismo – cairemos certamente. Olhar em frente para o terraço do prédio que pretendemos alcançar, ajudará.
Estabelecer a ligação entre os dois prédios – neutralizando o medo – é, neste contexto, o objetivo.
Eu voltarei a esta imagem; mas colocarei o foco na queda.
A elaboração de “a minha narrativa” vai entrar no campo difícil da identidade.
Poderemos, numa primeira versão contar a história na terceira pessoa (ele ou ela) como se fossemos uma personagem. A terceira pessoa criará uma distância que poderá ser facilitadora numa primeira abordagem.
Num segundo momento, faremos outra versão na primeira pessoa. A primeira pessoa é a natural numa narrativa que é “minha”.
Também em relação ao tempo, poderemos começar tendo como referência a última memória. Continuaremos a narrativa voltando à primeira memória e seguiremos com a terceira e seguintes até reencontrar a última (que foi primeira).
Relativamente ao conteúdo poderemos ser fieis à realidade, mais ou menos fieis ou reinventá-la. Duma forma ou de outra e de acordo com cada um, criar uma segunda ou terceira versão poderá ser interessante.
Mais difícil, porém, será perceber como funciona, em pano de fundo, a memória remota (se está lá).
Mas é tempo de começar ou de continuar se já se começou.