Uma memória.2

Na publicação “Uma memória” de 27 de maio foi pedida a criação de uma memória correspondente aos primeiros anos de vida – dos quais não há memórias ou raramente há.

É bom repetir a leitura dessa publicação para recordar a memória elaborada bem como a forma sugerida para essa elaboração.

Criamos ou evocamos uma memória mentalmente e, depois, servimo-nos da palavra escrita ou falada para a comunicar ou melhor a fixar.

Utilizamos a palavra escrita ou falada como suporte.

A proposta que hoje deixo vem na mesma linha – evocar uma memória (poderá ser criada) e utilizar como suporte a palavra escrita para a comunicar.

Para a proposta de hoje, o tempo será outro – a memória refere-se à idade 6-1o anos – o tempo do primeiro ciclo (antiga instrução primária).

Os seis/sete anos marcam uma mudança maior na vida de uma criança – hoje, entrar na escola, não será tão importante em si, sobretudo para quem já veio de outra ; mas é, ainda, importante em termos evolutivos.

Escrita a memória, imaginamos um prédio antigo com uma escadaria interior – uma escadaria central e com presença. Tem vários patamares que correspondem aos diferentes andares.

A primeira memória ficará no patamar do rés-do-chão. A que vai ser feita, agora, será colocada no 1ºandar.

Deveremos demorar-nos a imaginar, em pormenor, a escadaria, a forma do corrimão, a(s) porta(s) de entrada do(s) apartamento(s). Poderemos abrir uma porta, entrar na casa, imaginar recantos, cortinas, quadros…

O texto que, a seguir, transcrevo, é retirado do livro “Os Guerreiros do Arco-Íris” de Andrea Hirata.

Passa-se na Indonésia. Depois de uma longa espera por mais um aluno – a escola só funcionaria se houvesse dez – os meninos foram distribuídos pelas carteiras.

“Aquela manhã ficará comigo durante décadas. Naquela manhã, vi Lintang a pegar desajeitadamente num enorme lápis por afiar, como se estivesse a pegar numa faca comprida. O pai comprara-lhe o tipo errado de lápis. Tinha duas cores diferentes, uma ponta vermelha e outra azul. Não era o tipo de lápis que os alfaiates usavam para fazer marcações na roupa? Ou os sapateiros para marcar o couro? Qualquer que fosse aquele tipo de lápis, não servia de modo algum para escrever.

O caderno que o pai lhe comprara também não era o indicado”.

Lintang tornar-se-á, em pouco tempo, um aluno brilhante.