Ponte

Ponte

Um rapaz de 14/15 anos fez, um dia, um desenho com uma ponte – ou melhor com meia ponte. Só aparecia a primeira metade – a outra tinha caído. Um carro seguia pela metade existente.

Se continuasse cairia à água.

A mesma imagem ou algo semelhante, mas mais desenvolvida, é base de uma descrição que julgo corresponder a um sonho, ainda que a autora, uma rapariga de 16/17 anos, tenha dito que o texto não resultava de um sonho.

Primeiramente, era descrito o local – um sítio muito bonito com colinas e cascatas e um rio num vale fundo que corria com violência. Ela observava a paisagem a partir de um alto – uma espécie de miradouro.

A meia ponte surgia de forma pouco clara. Sobre a meia ponte circulava um táxi. Ela seguiu o percurso do carro até que caiu na bacia de um vulcão extinto.

-Por que fez o taxista isto? – perguntou.

-Porque tinha uma casinha lá na terra que foi destruída – alguém respondeu.

Encontrei outras referências a pontes que eram metade de uma ponte – às vezes, não era muito claro que tivessem partido – poderiam mesmo ser utilizadas para saltar para a água. Não é raro, porém, que memórias negativas possam ser resolvidas pela positiva (sendo ponto de partida para “construir algo útil ou inovador).

Os elementos comuns a estas imagens levam a pressupor uma imagem coletiva derivada de uma memória remota.

Seja coletiva seja individual, queremos completar a ponte – a ponte liga duas margens – meia ponte não leva a lugar algum ou não liga nada (ainda que a sua forma possa ser utilizada com um fim útil).

Insistimos, portanto, na ligação.

A proposta é a seguinte:

Vemo-nos a completar a ponte – criando a outra metade . Mas a metade que nos vemos a construir, não é do material da primeira – será de um material transparente, azulado.

Com a ponte inteira, iniciamos a travessia (completa) da ponte. Num sentido e noutro.

Uma vez e outra e outra.

Ao construir a parte em falta noutro material que se pretende mais abstrato reduzimos a possibilidade de quebrar . O concreto está intimamente ligada a fratura.

Só deixamos de repetir quando a ponte surgir, naturalmente, inteira.