Não só os criativos das áreas de expressão gráfica (ou plástica) e de expressão verbal podem fazer uma ligação positiva (ou negativa) ao passado, através de memória remota. Também os inovadores das áreas científicas que geram ideias para ajudar na solução de problemas complexos ou os que implementam uma nova tecnologia colhem dados na memória remota – diretamente, mas também de maneira indireta porque a nossa memória presente já engloba dados da passada, já fez ela própria escolhas ao ativar uns dados e ignorar ou resolver outros.
Frequentemente a forma dos robots nos sugere formas de passados (animais, por exemplo) mais ou menos distantes.
Também a criatividade quotidiana – de cada um de nós – é influenciada de forma positiva ou negativa pela conexão que a nossa mente estabelece com experiências passadas (que não são nossas) para encontrar forma de resolver os problemas no nosso quotidiano. Todos sabemos que há uns mais inspirados que outros para gerar ideias e também para as concretizar.
Deixo duas propostas:
A primeira é debruçar-nos sobre a forma como resolvemos dificuldades do dia a dia no sentido de encontrarmos um padrão nosso. Reconhecer ligações com a memória remota em situações específicas poderá ser precioso para podermos alterar ou melhorar esse comportamento. Sem nos darmos conta, poderemos ter desenvolvido um comportamento que foi típico (ou necessário) de um animal ou de uma sociedade anterior. Poderemos ter mantido comportamentos já desfasados aprendidos em família, ou em contextos culturais, de grupo…
Não só poderemos fazer grandes alterações na nossa forma de agir como, a partir daí, poderemos evoluir para uma forma pessoal – uma voz nossa que nos sustem e define.
Estaremos num caminho de configuração da nossa identidade.
A outra proposta visa o pensamento formal-operatório no sentido de o desenvolver. Vejamos então:
uma pena é leve – leve é concreto
já leveza é abstrato (leveza é a qualidade de ser leve).
Trabalharmos a capacidade de compreender o abstrato é sempre um ganho e, ainda que, nós, adultos já tenhamos ultrapassado essa fase, mantemos muitas vezes um pensamento preso, por demais, ao concreto.
É através do pensamento abstrato que conseguiremos imaginar uma situação futura e prever as suas consequências. E, é esta, verdadeiramente, a segunda proposta – imaginar em pormenor uma situação futura e avaliar as possibilidades, mas também as consequências que a mesma situação poderá trazer.