Emergir

Seguindo a linha de pensamento que referi na última publicação, dou por mim a repetir a palavra emergir.

Vou refletir sobre isso:

Emergir significa “vir à tona” o que vem à tona terá estado mergulhado num estado líquido ou intermédio entre sólido e líquido. Tanto a água como a matéria nem sólida nem líquida induzem, facilmente, um contexto de começo. Um contexto de começo chama por memórias remotas.

Num sentido mais abstrato, emergir significa manifestar-se (tornar-se notório).

Poderei perguntar – o que faz emergir as memórias remotas em vez de – o que ativa as memórias remotas?

Ou emergir refere-se a uma fase e ativar a outra?

Pergunto-me, ainda, se poderei falar de memória, em vez de memórias, no sentido em que a memória remota faz parte da memória de todos nós. Assim, a memória remota seria uma parte da memória.

Voltemos ao sentido de emergir. Se algo vem acima, é pressuposto que, antes, estava em baixo.

Em baixo no sentido de tempo (anterior) ou no de lugar?

Quer consideremos o sentido tempo, quer o de lugar, teremos de trazer à tona o corpo – o corpo num sentido alargado (corpo humano) e o corpo de cada um.

Parece-me ser certo que um corpo batido, violentado, sujeito a estimulação precoce de algumas partes, fica exposto à memória remota.

Por isso, os senhores da guerra deveriam assumir uma responsabilidade especial pelas imagens de violência que vão persistir em quem a sofreu, e também em quem viu de forma repetida as imagens dessa violência.

Não partilho a opinião de Sartre de que o inferno são os outros. Mas há outros que são o inferno. Às vezes, sob pretexto de ajuda ou dedicação, invadem-nos, limitam-nos e vivem a nossa vida.

Às vezes, sob o melhor pretexto, somos, repetidamente, fragilizados. Esta é uma violência velada. Repetida, expõe-nos à memória remota.

É como se o abstrato virasse concreto.

Falando em memória remota falamos em imagens (mas não só). Falando em imagens falamos de olhos.

“O olho, com o seu revestimento retiniano sensível à luz, é a única janela que se abre diretamente sobre o cérebro humano. A retina é constituída por tecido nervoso de origem cerebral embrionário que migrou para o exterior a partir do tubo neuronal primitivo. Esta espécie de bolsa protuberante de tecido cerebral inverte-se então para que as suas células nervosas se localizem na parte posterior interna dos olhos.”

(de: o cérebro sonhador de J.Allan Hobson)

Falando em olhos, falamos de pensamento visual, de contribuições de natureza interna e externa difíceis de definir.