Libertar
Caminho por um grande corredor – transporto um enorme embrulho. Avanço, devagar, a carga quase me submerge. Recorro à pouca energia que me resta e continuo. Surgem três degraus, subo o primeiro, paro, ao avançar para o segundo o embrulho cai. Depois de várias tentativas, consigo levantá-lo. E continuo. Lá longe, encostado à parede do corredor, há um banco – poderei arrumar o pacote lá. A esperança dá-me um novo fôlego.
Ao chegar junto do banco, viro-me de costas e com cuidado, deixo cair o embrulho. Começo a afastar-me – a cada passo que dou, sinto o embrulho a diminuir. Caminho com confiança. Ao chegar ao final do corredor, olho para trás – o embrulho é, agora, uma coisa pequenina – é esta imagem pequenina que quero guardar na minha mente.
Continuo a andar confiante.
Vou repetir amanhã, depois, depois…

Livros referidos:
A vida na Terra de Henry Gee
Somos a nossa memória – coleção neurociência e psicologia.
Entre ontem e amanhã – Fernanda Pimentel