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“Tinha vontade de rodopiar, de trabalhar, de rir. Já esquecera a cobra negra, já não ouvia o som do chicote a bater nas suas costas…….
Um dia, enquanto caminhava sobre a erva macia de um prado, viu diante de si uma enorme cobra verde.
Poderosa, erguia-se em toda a sua força no meio do campo.
– Não te faço mal – ouviu-a dizer enquanto se movia entre o susto e a surpresa.
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– Quero que uma estátua minha, grande e cheia de poder, seja colocada na rotunda, à entrada da cidade.
O rapaz não encontrou quem fizesse a dita estátua…
Fez uma estrutura espiralada numa matéria leve mas resistente e cobriu-a com matéria também ela leve e resistente. O resultado final era inspirador ainda que imperfeito.
Numa noite sem lua, mandou retirar a estátua do homem forte e ele próprio colocou, em seu lugar, a estátua da cobra.
Terminado o trabalho quis verificá-lo, acendeu um foco e iluminou a rotunda. Ficou impressionado pela sugestão de movimento de ascensão que tinha imprimido à forma.”
(de: Entre ontem e amanhã)
Enquanto caminhava, devagar, em direção a casa, o rapaz considerou a possibilidade de, um dia, por a cobra a voar.