O movimento ascendente, de que todos conhecemos o sentido e o significado, encontra no movimento descendente o seu contrário.
Ainda uma oposição, ainda o começo. Uma oposição para a qual é difícil definir cambiantes.
Se o desejo de ascensão parece ser universal, será de supor que o começo (em sentido primeiro) terá resultado de um movimento descendente.
Seria sábio não colocar em oposição subir e descer. Mas como faríamos?
Poderemos subir por etapas, mas no começo de cada etapa, espera-nos o poço côncavo a que teremos de recorrer – será lá que iremos buscar mais matéria.
Porque é nesse côncavo profundo que a matéria está – negra e enrolada como se fosse uma cobra.
Urge contextualizar este sentido ou esta mistura indiferenciada de sentidos.
A cobra é matéria/energia. É movimento. É negritude.
Está associada a raiva e ferocidade.
E continua a fazer-nos mover.
Há quem faça pulseiras com a forma de cobra, ou anéis … Há quem venere a cobra…, mas a descontextualização persiste.
Tentar esmagar a cobra é mesmo aquilo que não devemos fazer.
A cobra parece ser o primeiro molde para a primeira matéria. Parece conter o movimento certo para organizar essa matéria. Seja matéria, seja forma, seja movimento ou tudo isto, “a cobra” está no começo, está em nós.
Como libertaremos “a cobra” que está fechada dentro de nós? Como nos libertaremos das obsessões em que a “cobra” nos fecha?
Poderemos aclará-la, aliviar-lhe o peso, dar-lhe transparência – desmaterializá-la, em suma – mas ela persistirá.
Os sentidos primeiros congregam significações de muito difícil diferenciação. E de difícil contextualização.
Teremos, porém, de começar.